terça-feira, 16 de junho de 2015

POR QUE TEMOS MEDO DO FUTURO?

Porque somos tão medrosos?

«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» Estas duas perguntas que Jesus dirige aos seus discípulos não são, para o evangelista Marcos, um acontecimento do passado. São as perguntas que têm de escutar os seguidores de Jesus imersos nas suas crises. São as perguntas que temos de nos colocar também hoje: onde está a raiz da nossa cobardia? Porque temos medo perante o futuro? É por nos faltar fé em Jesus Cristo?
O relato é breve. Tudo começa com uma ordem de Jesus: «Passemos para a outra margem». Os discípulos sabem que na outra margem do lago de Tiberíades está o território pagão da Decápole. Um país diferente e estranho. Uma cultura hostil à sua religião e crenças.
Depressa se levanta uma forte tempestade, metáfora gráfica do que sucede no grupo de discípulos. O vento que sopra, as ondas que arremetem contra a barca, a água que começa a invadir tudo, expressam bem a situação: que poderão os seguidores de Jesus perante a hostilidade do mundo pagão? Não é só a sua missão que está em perigo, mas inclusive a própria sobrevivência do grupo.
Despertado pelos seus discípulos, Jesus intervém, o vento cessa e sobrevem uma grande calma no lago. O surpreendente é que os discípulos ficam espantados. Antes tinham medo da tempestade; agora parecem temer Jesus. Todavia, algo decisivo se produziu neles: recorreram a Jesus; puderam experimentar nele uma força salvadora que desconheciam; começam a perguntar-se sobre a sua identidade. Começam a intuir que com Ele tudo é possível.
O cristianismo encontra-se hoje no meio de uma «forte tempestade» e o medo começa a apoderar-se de nós. Não nos atrevemos a passar para a «outra margem». A cultura contemporânea aparece-nos como um país estranho e hostil. O futuro dá-nos medo. A criatividade parece proibida. Alguns acreditam que é mais seguro olhar para trás para melhor ir em frente.
Jesus pode-nos surpreender a todos. O Ressuscitado tem força para inaugurar uma fase nova na história do cristianismo. Só nos pede fé. Uma fé que nos liberte de tanto medo e cobardia, e nos comprometa a caminhar atrás dos passos de Jesus.
José Antonio Pagola
In "Periodista Digital"
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 16.06.2015
    

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