Volto à questão, apresentada acima, sobre
se há uma obrigação de recorrer à intercessão dos santos.
Não é minha
intenção resolver esta questão: contudo, não posso deixar de apresentar uma
doutrina do Angélico (referência a São Tomás de Aquino).
Ele, antes de
tudo, em vários lugares supracitados e, especialmente no livro das Sentenças,
tem por certo que cada um é obrigado a orar, porque de outro modo, não se pode
(como diz ele) receber de Deus as graças necessárias à salvação, a não ser pela
oração:
“Cada um é obrigado a
rezar, porquanto deve procurar os bens espirituais, que só por Deus são
concedidos e que só podemos alcançá-los por meio da oração”.
Em outro lugar do
mesmo livro, o mesmo Santo propõe a dúvida: se devemos invocar os santos, a fim de que peçam por nós. É esta a
resposta do Santo, que vamos dar em sua íntegra, para melhor
compreensão:
“A ordem
estabelecida por Deus, segundo Dionísio, é que todas as coisas sejam referidas a
Deus, por meio das últimas mediações.
Ora, como os santos do céu estão próximos de Deus, a ordem da lei divina requer que nós, enquanto vivermos neste mundo e estivermos longe do Senhor, sejamos conduzidos a Ele pelos santos que são os medianeiros.E isso acontece quando Deus derrama, por eles, sobre nós, os efeitos de sua Bondade. Nossa volta para Deus deve corresponder aos curso da distribuição de suas graças.
Assim como os benefícios de Deus chegam até nós pela intercessão dos santos, do mesmo modo devemos nós chegar até Deus, a fim de recebermos novamente seus auxílios, por intermédio dos santos.Esta é a razão porque temos os santos como nossos intercessores e ao mesmo tempo como medianeiros diante de Deus, pedindo-lhes que roguem por nós”.
Notem as palavras:
Isto requer a
ordem da lei divina, e notem igualmente estas: assim como mediante os
sufrágio dos santos nos vem a graça de Deus, pelo mesmo caminho devemos nós
outros voltar para Deus, a fim de recebermos novamente sua graça por mediação
deles.
Assim, segundo São
Tomás, a ordem da lei divina requer que nós, mortais, nos salvemos por meio dos santos, recebendo, por sua
intercessão, os auxílios necessários à nossa salvação.
Objeta, então, o
Angélico, dizendo ser supérfluo recorrer aos santos, quando Deus é infinitamente
mais misericordioso e inclinado a atender-nos.
Responde ele mesmo que o Senhor dispôs
assim, não por defeito de seu poder, mas para conservar a ordem reta e
universalmente estabelecida de operar por meio de causas
segundas:
“Não é, diz o
santo, por defeito de sua misericórdia, senão para que seja mantida a
ordem supra explicada”.
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Fonte:
retirado do livro “A Oração” de Santo Afonso de Ligório.
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