Admirai-vos, talvez, de
me ouvir dizer que a Missa é uma obra maravilhosa?
E não é, com
efeito, inefável maravilha o que opera a palavra de um humilde sacerdote? Que
língua angélica ou humana poderia explicar poder tão excessivo?
Quem, jamais, pode
imaginar que a palavra de um homem, que não tem, naturalmente, a força de
levantar da terra uma palha, receberia da graça o poder surpreendente de
fazer descer do Céu o Filho de Deus?
Aí está um poder
maior que o de transportar montanhas, esgotar o mar e abalar os céus; poder
comparável, de certo modo, àquele primeiro Fiat com que Deus fez surgir
do nada todas as coisas, e que pode mesmo parecer sobrepujar, em outro sentido,
aquele Fiat pelo qual a Virgem Santíssima atraiu a seu seio o Verbo
Divino.
A Virgem Maria
nada mais fez que fornecer a matéria do corpo de Cristo dela formado, sem
dúvida, isto é, de seu puríssimo sangue, mas não por ela nem por sua operação:
enquanto que a voz do sacerdote, sendo instrumento de Cristo no ato da
consagração, O reproduz de um modo novo e admirável, quer dizer,
sacramentalmente e isto tantas vezes quantas consagra.
O bem-aventurado
João, o Bom, de Mântua, levou um eremita seu companheiro a compreender esta
verdade.
Este não conseguia
persuadir de que a palavra de um padre tivesse o poder de mudar a substância do
pão, no Corpo de Jesus Cristo, e a do vinho em seu Sangue; e, o que é mais
deplorável, tinha cedido a essa tentação diabólica.
O servo de Deus
percebeu o erro do companheiro, e, conduzindo-o a beira de uma fonte, aí encheu
de água uma taça e deu-lhe de beber.
Depois de sorver
toda a água, o outro confessou que jamais, em toda a sua vida, provara um vinho
tão delicioso. Então João, o Bom, disse-lhe:
“Não vedes o
milagre, meu querido irmão? Se, por meio de um miserável como eu, a água se
mudou em vinho pela onipotência divina, quanto mais deveis crer, por meio das
palavras do sacerdote, que são palavras de Deus, o pão e o vinho mudam-se no
Corpo e Sangue de Jesus Cristo? Quem ousaria jamais pôr limites à onipotência de
Deus?”
Bastou isso para
dissipar o engano do eremita, que, expulsando de seu espírito toda a dúvida, fez
grande penitência por seu pecado.
Um pouco de fé, mas de fé
viva, e confessaremos que inúmeras são as prodigiosas prerrogativas contidas
neste admirável Sacrifício.
Aí veremos, com
admiração, renovar-se-á a toda hora este prodígio da sagrada humanidade de Jesus
Cristo presente em milhares e milhares de lugares, e gozando, por assim dizer,
de uma sorte de imensidade que não possui nenhum outro corpo, e só a ela
reservada em recompensa do sacrifício de sua vida que Ele fez a Deus
Altíssimo.
Um demônio,
…falando pela boca
de uma pessoa, fez com que um judeu incrédulo compreendesse esta verdade, por
meio de uma comparação material e grosseira.
O homem achava-se
numa praça com muitas pessoas, entre as quais a mulher possessa. Nesse momento
passou um padre que levava o Santo Viático a um doente.
Todos os presentes
se ajoelharam e prestaram homenagem ao Santíssimo Sacramento. Só o judeu ficou
imóvel e não deu sinal algum de respeito. Vendo isso, a mulher levantou-se
furiosa, arrancou-lhe o chapéu e deu-lhe um vigoroso bofetão,
dizendo-lhe.
“Desgraçado,
porque não te prostras diante do verdadeiro Deus presente neste Divino
Sacramento?” – “Que Deus?”, replicou o judeu. “Se fosse verdade, a conseqüência
seria haver muitos deuses, pois, ao celebrarem a Santa Missa ele estaria em cada
um dos vossos altares”.
A estas palavras,
o espírito, que habitava naquela mulher, tomou um crivo e opondo-se ao sol,
disse ao judeu que olhasse os raios filtrando-se pelos buracos.
Em seguida ajuntou:
“Dize-me, judeu, há então muitos sóis passando pelas aberturas deste crivo, ou
um só?” E, à resposta do judeu de que não havia senão um sol, a mulher
replicou.
“Por que te espantas,
então, de que Deus, feito Homem e feito Sacramento, possa ter, por um excesso de
amor, uma presença real e verdadeira sobre vários altares, permanecendo, no
entanto, uno, indivisível e imutável?”
Foi o suficiente
para confundir a incredulidade do judeu, que por esse raciocínio se viu
constrangido a confessar a verdade de nossa Fé.
Ó santa Fé! Apenas
um raio de tua luz, e exclamaremos com fervor: Quem ousaria estabelecer limites
à onipotência de Deus?
Nesta grande
concepção que tinha do poder de Deus, Santa Teresa dizia, muitas vezes, que
quanto mais sublimes eram os mistérios de nossa fé, e profundos e impenetráveis
à nossa inteligência, com tanto mais força e felicidade neles acreditava,
sabendo bem que Deus todo-poderoso pode fazer prodígios infinitamente
maiores.
Reanimai,
espontaneamente, vossa fé e confessai que este Divino Sacramento é o milagre dos
milagres, a maravilha das maravilhas, e que sua maior excelência consiste em
ultrapassar nossa pobre inteligência. E tomados de
admiração dizei e repeti muitas vezes: Oh! Que grande tesouro! Que
imenso tesouro!
Se, porém, sua
excelência prodigiosa não vos comove, que vos toque, ao menos, sua soberana
necessidade.
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Fonte:
retirado do livro “As Excelências da Santa Missa” de São Leonardo de Porto
Maurício.
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