"Não sou uma águia, dela tenho simplesmente os olhos e o coração, pois apesar de minha pequenez extrema, ouso fitar o Sol Divino [...] e meu coração sente em si todas as aspirações da águia".
Irmã Marcela Alejandra Ruiz Reyes, EP
Quando o Sol, ainda tímido, deita seus primeiros raios sobre as altas cordilheiras, o panorama vai adquirindo aos poucos uma luminosidade toda especial que faz coruscar como minúsculos diamantes o alvo manto de neve no cimo das montanhas mais elevadas. E à medida que a presença do Astro Rei ganha força, a neve se derrete levemente em alguns recantos da encosta, fazendo escorrer torrentes de água cristalina que rompem o silêncio da aurora com seu inconfundível e agradável murmúrio.
Entre os picos que se levantam sobranceiros, algo convida nosso espírito à contemplação e ao heroísmo. Trata-se de uma majestosa ave que, depois de se ter despertado junto com o nascer do Sol, cruza os ares com grandeza: a águia real. Sentindo-se inteiramente à vontade em tão espetacular cenário, ela voa com elegância, desafiando as alturas e parecendo estar no ar por puro prazer. Mas se a observarmos com mais cuidado, veremos que ela presta muita atenção no que acontece nos vales profundos e nas íngremes vertentes.
De repente, sua vista extremamente aguçada divisa uma presa que lhe reporá as energias. Investe, então, com uma velocidade vertiginosa - que pode passar até de 150 km/h - e a apanha certeira, com suas garras afiadas. Uma vez alimentada, fixa o Sol como se quisesse atingi-lo e outra vez fende os ares com audácia, em sua direção.
Contemplando-a levantar voo, ela nos dá ideia do que é a ousadia que não duvida nem toma precauções pequenas e mesquinhas. Sua forma de sulcar os céus evoca a beleza das almas que, no supremo heroísmo do desapegar-se das coisas da Terra, se abandonam nas mãos de Deus, dispostas a enfrentar todos os riscos desta vida, para contemplar eternamente a luz do Criador.
Tal é a Virgem Santíssima que, em sua humildade, voa como uma águia mística pelos céus inexcogitáveis do amor a Deus. E assim também são as almas que, reconhecendo sua debilidade para alcançar o Céu, podem dizer com Santa Teresinha: "Não sou uma águia, dela tenho simplesmente os olhos e o coração, pois apesar de minha pequenez extrema, ouso fitar o Sol Divino, o Sol do Amor, e meu coração sente em si todas as aspirações da águia...".1 ²
1 SANTA TERESA DE LISIEUX. Manuscrito B. O passarinho e a águia divina.
In: Obras completas. São Paulo: Paulus, 2002, p.175.
(Revista Arautos do Evangelho, Agosto/2014, n. 152, p. 50-51)
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