Bento XVI, papa de 2005 a 2013
Audiência geral de 14/06/06
A primeira característica que impressiona vivamente em André, o irmão de Simão Pedro, é o seu nome; ele não é hebraico, como se poderia esperar, mas grego, sinal não insignificante de uma certa abertura cultural da sua família. [...] Pouco antes da Paixão, tinham ido uns gregos à cidade santa de Jerusalém [...] para adorarem o Deus de Israel na festa da Páscoa. André e Filipe, os dois apóstolos com nomes gregos, serviram de intérpretes e de mediadores junto de Jesus a este pequeno grupo. [...] Jesus disse aos dois discípulos, e por seu intermédio ao mundo grego: «Chegou a hora de ser glorificado o Filho do Homem. Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto» (Jo 12,23-24). Que significam estas palavras neste contexto? Jesus quis dizer: Sim, o encontro entre Mim e os gregos terá lugar, mas não como uma conversa simples e breve entre Mim e outras pessoas, impelidas sobretudo pela curiosidade. Com a minha morte, comparável à queda na terra de um grão de trigo, virá a hora da minha glorificação. Da minha morte na cruz virá a grande fecundidade. O grão de trigo morto, símbolo de Mim próprio crucificado, tornar-se-á, na ressurreição, pão da vida para o mundo; será luz para os povos e culturas.» [...] Por outras palavras, Jesus profetisa a Igreja grega, a Igreja dos pagãos, a Igreja do mundo como fruto da sua Páscoa.
Uma tradição muito antiga vê em André [...] o apóstolo dos gregos nos anos que se seguiram ao Pentecostes, dando a entender que ele foi anunciador e intérprete de Jesus no mundo grego. Pedro, seu irmão, saiu de Jerusalém, passando por Antioquia e chegando a Roma, para aí exercer a sua missão universal; André foi, pelo contrário, o apóstolo do mundo grego. Aparecem assim, na vida e na morte, como verdadeiros irmãos – uma fraternidade que se exprime simbolicamente na especial semelhança entre os centros de Roma e de Constantinopla, Igrejas verdadeiramente irmãs.
EAQ